Atualmente muito se discute sobre a
necessidade de uma regulamentação da comunicação no Brasil, medida vista
como uma censura da mídia, já que essa é a ideologia que parte da
sociedade brasileira incorporou em seus discursos “democráticos”.
Mas o que essa mesma parcela não percebe
é que já existe uma censura nos meios de comunicação. Essa censura é
justamente fazer todos pensarem que a mídia é imparcial, que dá voz e
representatividade a todos. Só que não.
Vou usar um exemplo simples a mim, creio que a muitos também: os jovens.
Inicialmente um contexto. Tenho 24 anos
(uma senhora jovem) e estudo Jornalismo. As duas pontas desta conversa:
Juventude vs Mídia.
Dentro da sala de aula, ou até mesmo nas
rodas de discussão que fazemos pós-aula é notório o desconhecimento que
meus próprios colegas de profissão têm acerca de debates que envolvem a
sociedade como um todo.
Mas isso não é uma crítica. É uma
alerta. Nessas discussões é possível reparar o olhar de espanto e
surpresa quando menciono alguns assuntos que foram deturpados pela
mídia, inclusive quando falo que os jovens não estão acomodados como
parece, ou como nos é apresentado pelos meios de comunicação.
Dias atrás, conversei com um amigo sobre
os investimentos para a educação. Em resumo, apontei que se hoje os
parlamentares debatem pela aprovação dos 10% do PIB, 100% dos royalties
do petróleo e 50% do Pré-sal para o setor, é porque a juventude não
apenas pressionou pelas redes sociais, fazendo o “ativismo de sofá”, mas
porque essa mesma geração foi às ruas, em diversas oportunidades.
Ocuparam Brasília, ocuparam a Câmara, ocuparam o espaço da agenda
brasileira, colocando em cheque os temas que estavam guardados nas
gavetas.
A admiração maior dele foi ao me escutar
falar da Marcha das Sindicais, ocorrida em Brasília, no mês passado.
Para ele, assim como para muitos brasileiros, aquela manifestação era um
bando de desocupados, que atrapalharam o trânsito da capital federal.
Tamanha surpresa quando eu expliquei que aquelas 50 mil pessoas estavam
ali para cobrar do Governo melhorias para os trabalhadores e estudantes.
Melhorias estas, que implicam diretamente na vida de milhões de
brasileiros, e entre as pautas, estava também a cobrança dos 10% do PIB
na educação. E quem estava lá? Sim, os jovens mais uma vez.
E então você pensa que isso só acontece
esporadicamente, e lá longe, em Brasília, na frente do Congresso
Nacional, que este ativismo está longe de você. Mais uma vez, lhe vem
uma negativa. Ações como essas ocorrem frequentemente, em todos os
cantos do país, porém a mídia oculta esses acontecimentos, ou conta a
história como convém aos interesses dela.
Quer mais um exemplo?
O que você pensaria se ficasse sabendo
que neste atual, MILHARES de jovens, em 16 cidades brasileiras,
realizaram inúmeras intervenções e manifestações pedindo não apenas por
esses investimentos na educação (pauta central), mas também engajados em
diferentes causas, como contra a violência acometida contra negros,
mulheres, gays; pela reforma agrária; cobrando trabalho digno e decente,
pressionando pela democratização dos meios de comunicação?
Mais ainda. Que estes jovens realizaram
suas ações em pontos estratégicos, que coincidiam de ser em frente às
secretarias de educação e/ou na frente das prefeituras. O motivo dessa
estratégia era se fazer ouvir pelos representantes públicos, apresentar
as reivindicações que essa juventude defende. E o barulho destes jovens
foi tão grande, que não apenas os prefeitos, mas até mesmo a presidente
Dilma Rousseff se reuniu com os jovens, para escutar essas tais
reivindicações?
Seria algo ilusório. Difícil de acreditar.
A presidente da República dispor do seu valioso tempo para escutar esses desocupados?
Para os jovens, não existe ilusão,
existe ação. Sim, eles conseguiram isso e muito mais, que infelizmente
não cabe em apenas um artigo.
Estas mobilizações realizadas fizeram
parte da Jornada de Lutas da Juventude Brasileira, que talvez, você deve
ter sido informado que foram ações isoladas, de jovens atrapalhando o
trânsito da cidade, como é de costume ser divulgado.
Estive presente na Jornada que ocorreu
em São Paulo. Como cidadã posso dizer que foi um dos momentos mais
enriquecedores que tive. Não apenas por ver a organização e mobilização
de milhares de estudantes, mas por ver que todos que estavam ali,
independente da idade, sabiam dialogar sobre o porquê estavam cobrando
tais melhorias. Sim, essa juventude é consciente dos seus atos, é mais
consciente ainda da capacidade que eles sabem que têm para mudar o
futuro do país.
Essas ações, infelizmente, só tomamos
conhecimento através da imprensa alternativa, pois na grande mídia,
ainda prevalece a seleção criteriosa ou distorcida da informação,
atendendo aos interesses políticos e mercadológicos dos grandes
empresários que detém o domínio da comunicação.
Os jovens são apenas um mero exemplo
dessa censura. Se irmos mais a fundo, de certo, teremos muitas
discussões sobre a exclusão que gays, negros, mulheres e outras minorias
têm na mídia.
Por fim, parafraseio um trecho de uma
famosa canção, pra dizer que regulamentar a mídia é apenas um caminho
pra mostrar que o que “eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério (mesmo)”.
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