Crushers: Punk & Hardcore de Parintins
parte I
Insistência e subversão
na ilha
Inicio de
madrugada de 10 de dezembro de 2010. Praça dos Bois. O espaço da música
comercial parintinense recebe pela primeira vez um festival alternativo. De
Rock, mais precisamente- mesmo que ainda tenha como participantes bandas que
fazem covers de músicas “da moda”, só para “fazer mídia”, tanto que saiu
matéria sobre a festa em um jornal televisivo da capital.
No palco, a
penúltima banda do festival canta uma música da década de 80, dos Titãs, que critica
a ação da força repressora do estado, bem na cara daqueles que faziam a
“segurança” do evento. A música é “Polícia”. Assim, logo aparecem os resquícios
da ditadura militar. Em menos de 15 minutos de show a policia sobe ao palco
para tentar parar a banda. Alegando incitação a violência (que era apenas a
roda punk), os policias exigiram que banda, a mais esperada do evento,
suspendesse sua apresentação e ainda pedissem desculpas, no palco, pelo
desacato na letra da música. O pedido de desculpas, forçado pelos
organizadores, não soou muito bem aos ouvidos dos homi de cinza. A resposta do vocalista foi direta: “os policiais
eram ignorantes por não entenderem que essa era apenas uma crítica a corrupção
que existe nessa esfera de poder, e que se eles se sentiram ofendidos é por que
a carapuça serviu!”, seguido de um sonoro “LIBERDADE DE EXPRESSÃO, PORRA!!!”. Resultado:
o show não parou, mas tocaram apenas por mais uns dez minutos, e os policiais
só não prenderam os integrantes devido os argumentos dos promotores do evento e
as “homenagens” do público rockeiro (agrados do tipo: “policial filha da P***,
vai tomar no C***!!!”). Segundo Aldemar Moreira, guitarrista do Crushers na
época, se dependesse da banda, teriam partido pra cima dos policiais, pois essa
SEMPRE FOI a vontade deles.
Assim terminava
a última aparição em público do grupo que fez história na cidade de Parintins,
pela sua postura no palco, palavras de baixo calão, suas letras e atitudes
subversivas, gestos obscenos, e som veloz e pesadíssimo que atordoava a
sociedade passiva aos problemas sociais.
A banda, é
claro, ficou muito furiosa com o acontecimento. Vários shows fizeram em espaços
que não eram exatamente eventos de rock, e nunca antes foram surpreendidos por
ações desse tipo. A não ser no reduto dos rockers
de Parintins (mas em outro momento contaremos essa parte da história). E
justamente num festival de cultura alternativa foram censurados. Irônico, não?
O Começo
O grupo nasceu
após o fim da primeira banda de rock pesado da cidade, o Porrada Podre, no qual
o batera Rai e o vocalista Mouzart faziam parte, e durou por mais de dois anos.
Nesse pequeno espaço de tempo conseguiram trazer ira a burguesia parintinense.
Usavam a arte da
musica pesada para fazerem criticas aos políticos burgueses, igrejas- tanto
católica quanto evangélicas- e seus
discursos reacionários hipócritas, às empresas bumbalisticas (e não aos bois bumbas!) e sua perda da tradição
folclórica, falta de consciência política e social da maior parte da população,
e a mídia local que esta a serviço exclusivamente da minoria que detém o poder
econômico e político da ilha. O campo de batalha para os poderosos era as redes
sociais, no caso o Orkut, que a usavam para tentar derrubar de alguma forma o
quinteto pesado da ilha.
Iniciaram suas
atividades como um quarteto, após muita insistência do baixista Adriano Aranha.
Segundo ele, muito mais velho que os outros garotos da banda, juntos tinham potencial
e espírito necessários para um som de peso. Assim, Mouzart Melo no vocal e
guitarra, Adriano Aranha no baixo, Raí Farias na batera e Aldemar Moreira na
guitarra se juntaram para fazer a primeira formação da cólera sonora
parintinense que denominaram Crushers.
Os ensaios eram
feitos geralmente na casa de Raí, ou de Adriano. Os equipamentos eram
extremamente precários. Usavam aparelhos de som como amplificadores para os
instrumentos, pedestais feitos com cabos de vassouras, microfones de Dvd-okê
amarrados aos pedestais por sacolas plásticas, guitarra que mais parecia
berimbau de tão empenada e cabos podres que sempre estavam com defeitos. A
bateria tinha apenas um prato, velho, enferrujado e torto, que não fazia nem um
barulho ao ser atacado, e mais parecia uma bacia de alumínio. Os tons, não
tinham tons. O som da caixa, ao ser batida, parecia o de uma lata de leite Ninho, nunca afinava. Numa tentativa de
melhoria no som do bumbo e do surdo o baterista grudou absorventes femininos
nas peles do equipamento e viram motivos de muitas risadas quando a levavam
para tocar a fora. De onde ele tirou essa idéia? Até hoje é um mistério... Era
um milagre como conseguiam entender o barulho que faziam. .
Porém a vontade
de fazer música com conteúdo era bem maior que os problemas de estrutura e com
a vizinhança, que sempre reclamava do barulho. E quem os vizinhos acionavam
para acabar com os ensaios? A polícia! Por varias vezes os mesmos policias
batiam na porta do local do ensaio e forçavam o fim do som. Sempre com muita
discussão e ameaças por parte das “autoridades”. “Se fosse forró ou aquele lixo
que chamam de pagode, a vizinhança não se incomodaria!” diz Aldemar.
As músicas eram
basicamente covers de bandas punk e hardcore, que continham protestos sociais
em suas letras. Ramones, Garotos Podres e a banda Amazonense Chá de Flores,
eram alguns dos covers.
Essa formação
fez alguns shows pela cidade. Inclusive participaram da ultima edição do maior
festival de cultura e arte de Parintins, o Grito da Periferia, em março 2010,
que foi extinto pelo poder publico municipal. “Essa não foi uma boa
apresentação da banda” relembra Mouzart:
-Muitos contratempos ocorreram, não por culpa
da organização do evento, mas por falta de instrumentos e problemas pessoais de
alguns dos integrantes. O Aldemar foi assaltado no lado de fora de onde estava
acontecendo a festa. Nessa levaram sua bicicleta, veiculo em usava para ir
trabalhar e estudar. Esses problemas afetaram bastante o desempenho no palco da
banda. Não acertaramos os tempos, erraramos as letras, desafinei e esquecemos
as notas das musicas. Aldemar tava visivelmente nervoso, perdeu a palheta e
teve que tocar as cordas, que tavam enferrujadas, com os dedos até os
machucarem. No vídeo que fizeram do evento da para perceber a parte clara de
sua guitarra já toda vermelha de sangue que escorria pelos dedos da mão
direita.
Parecia que tudo
daria errado daí pra frente, e sentiram uma necessidade de mudança, de alguma
forma. E ela viria “pelas patas de um hipopótamo bambi”...
Continua...
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